Quando falamos em depressão, muitas pessoas imaginam que a solução está em iniciar uma medicação e esperar algumas semanas até que os sintomas desapareçam. Para uma parte significativa dos pacientes, isso realmente acontece. No entanto, existe um grupo que não encontra melhora, mesmo após tentar diferentes abordagens. Estamos falando da depressão resistente ao tratamento — uma condição mais comum do que se imagina e que exige uma nova forma de cuidado.
O que é a depressão resistente?
A depressão resistente, ou depressão refratária, é um tipo de transtorno depressivo maior que não responde de forma satisfatória a pelo menos dois tratamentos diferentes com antidepressivos, usados em doses adequadas e por tempo suficiente.
Isso não significa que o paciente esteja “fazendo algo errado” ou que “não queira melhorar”. A verdade é que, nesses casos, as alterações no cérebro são mais complexas e profundas, exigindo uma abordagem mais avançada e personalizada.
Como a depressão comum se comporta?
Em muitos casos de depressão leve a moderada, os sintomas — como tristeza profunda, falta de energia, desânimo e alterações no sono ou apetite — costumam melhorar com uma combinação de:
- Psicoterapia
- Atividade física
- Mudanças no estilo de vida
- Antidepressivos tradicionais (como os ISRS)
Esses medicamentos atuam, em sua maioria, ajustando os níveis de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores que afetam o humor e a motivação. No entanto, esse “ajuste químico” não é suficiente para todos os casos.
Por que alguns cérebros não respondem?
Estudos recentes mostram que, em pessoas com depressão resistente, o problema vai além da simples falta de neurotransmissores. Aqui entra um conceito essencial: neuroplasticidade.
A neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro tem de se adaptar, criar novas conexões e reorganizar sua atividade neuronal. Em pacientes com depressão resistente, essa capacidade está comprometida.
Imagine uma cidade com estradas bloqueadas: por mais que os carros (neurotransmissores) estejam prontos para circular, o trânsito (comunicação entre os neurônios) não flui como deveria. Ou seja, o problema está nas conexões, não apenas na “quantidade” de substâncias químicas.
Qual o papel da cetamina nesse cenário?
A cetamina, em doses controladas e monitoradas por especialistas, tem se mostrado um dos tratamentos mais promissores para a depressão resistente. Diferente dos antidepressivos tradicionais, ela atua rapidamente na reativação das conexões neurais, estimulando a neuroplasticidade.
Em outras palavras, a cetamina ajuda a “reconectar” as áreas do cérebro afetadas pela depressão, permitindo que o paciente sinta alívio dos sintomas em dias — e não apenas após semanas ou meses, como é comum com outros medicamentos.